23 de junho de 2010

O QUE SIGNIFICA ISSO???

Postado por célia ferrer às 11:06:00
DADAÍSMO


colagem de Hannah Höch, 1919

Dadá é a vida sem pantufas nem paralelos: quem é contra e pela unidade e decididamente contra o futuro; nós sabemos ajuizadamente que os nossos cérebros se tornarão macias almofadas, que nosso antidogmatismo é tão exclusivista como o funcionário e que não somos livres e gritamos liberdade; necessidade severa sem disciplina nem moral e escarramos na humanidade.

Assim começa o "Manifesto do Senhor Antipirina", o manifesto dadaísta, o mais radical de todos os movimentos de vanguarda. De feições anarquistas, o dadaísmo nasceu em meio à 1ª Grande Guerra, em Zurique, onde ainda se podia respirar os ares da paz.

Em 1916, foi fundado o Cabaret Voltarie, por Hugo Ball, e logo tornou-se local de reuniões de intelectuais e foragidos da guerra. Neste cabaret, Tristan Tzara, o próprio Hugo Ball, Hans Harp, Marcel Janco e Huelsembeck lançaram o Dadaísmo, tendo como intenção buscar uma liberdade de se exprimir, de agir; pregando e destruição do passado, o passado cultural e sócio-político da humanidade, assim como dos valores presentes, e não vendo qualquer esperança ao futuro.

Apesar de todo esse radicalismo, o dadaísmo foi na verdade um movimento pacifista, pois este desejo, esta ânsia de destruição, era motivado exatamente pela guerra, que gerou uma forte crise moral e política por toda a Europa.

O Dadaísmo representou, portanto, uma reação à sociedade decadente, sobretudo a alemã.

Voltou-se inclusive contra uma possível vitória da Alemanha. E um das maneiras que os artistas encontraram para mostrar seu descontentamento com a sociedade foi criando uma antiarte, uma antiliteratura, carregada de ilogismo, de deboche, de humor sendo antiintelectualista, seguindo com isto parte das idéias cubistas, embora se declarassem anticubistas também.


Hannah Höch, "A menina linda", 1919


O cubismo a penúria nas idéias. Os cubistas, os quadros dos primitivos, as esculturas negras, as guitarras, e agora vão cubicar o dinheiro. (Francis Picabia - Manifesto canibal na obscuridade)

Este niilismo, esta negação dadaísta, era tão forte que os artistas procuravam negar-se até a si mesmos. "Os verdadeiros dadaístas são contra dadá.". Isto pelo fato de, uma vez destruídas a arte acadêmica e a moral burguesa, dadá seria o substituto natural.

Entretanto, o dadaísmo representou uma reação a qualquer sistema institucionalizado. No referido manifesto, Tzara diz: "eu sou contra os sistemas, o mais aceitável dos sistemas é aquele que tem por princípio não ter princípio nenhum."

Quanto ao significado da palavra dadá, Tzara explica: "Dada não significa nada." De qualquer modo, esta palavra foi encontrada no dicionário Petit Larousse pelo próprio Tzara. E um dos significados lá presentes era o de que se tratava de um sinal de ingenuidade, algo ligado à criança. O que ressalta a idéia de espontaneidade, de ilogismo e humor da antiarte dadaísta.

Por outro lado, a intenção maior ao nomear o movimento de dadaísmo foi a de ter uma expressividade e uma força à própria palavra.

O Dadaísmo teve como epicentro Zurique, na Suiça; porém houve uma contemporânea internacionalização do movimento, indo de Nova York a Moscou, passando por Paris, Barcelona e Munique. Na Alemanha, procurou-se ressaltar os aspectos críticos em relação à sociedade e ao pós-guerra. Enquanto nos Estados Unidos, Francis Picabia, Marcel Duchamp e o americano Man Ray realizam algo como um protodadaísmo.


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Marcel Duchamp e os Ready Mades

Duchamp utilizou-se da técnica do ready-made, consistindo em se aproveitar de produtos industrializados para recriar um novo objeto que desprezasse a arte acadêmico-burguesa. Segundo Georges Hugnet, Duchamp "pretendia exprimir a sua aversão à arte e a admiração pelos objetos fabricados."

Quanto à literatura, os textos dadaístas mostravam-se agressivos, opondo-se a qualquer técnica tradicional, criando com isto um texto ilógico e antiracional. "abolição da lógica, dança dos impotentes da criação: DADÁ; (...) trajetória de uma palavra lançada como um disco sonoro grito" (Manifesto Dada - 1918).



Veja como exemplo de ilogicidade dadá este poema de Tzara:

As borboletas de 5 metros de comprimento se partem como os espelhos,

como o vôo dos rios noturnos sobem com o fogo até à via-láctea.


Uma técnica dadaísta, aprofundada pelos surrealistas, é a da escrita automática, que consiste em escrever sem qualquer preocupação lógica, fazendo uma livre associação de idéias (conforme o poema acima). Dentro deste espírito desconcertante, Tzara dá até mesmo a "técnica" de como se escrever um poema dadaísta:

Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-se num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

O Dadaísmo conheceu seu apogeu em 1920 e, no ano seguinte, seu declínio. No ano de 1920, várias peças teatrais, recitais de música e leitura de poemas dadaístas foram praticadas com até mesmo certa aceitação pública. Porém, o distanciamento pretendido se acentuou e, em um outro manifesto, lido por Francis Picabia, "Manifesto Canibal na Obscuridade", há a seguinte passagem:

Dada não quer nada, não pede nada. Move-se e gesticula para que o público diga: nós não compreendemos nada, nada, nada.

Contudo, a Europa, após o término da 1ª Guerra, pedia uma reconstrução, tanto física quanto cultural e moral; e este desejo de se manter distante, este aspecto destrutivo foi causa de discordâncias internas, sendo a principal a entre Tzara e André Breton, dadaísta francês que, em 1924, lançaria o movimento surrealista. De qualquer modo, apesar de todo radicalismo peculiar, os dadaístas cumpriram seu papel ao se posicionarem contra uma sociedade decadente.


PINTURA NO DADAÍSMO



Gigante Acefálo * Max Ernest * Dadaísmo

O Gigante Acéfalo (sem cabeça),
Max Ernest (1891-1976).



A pintura dadaísta foi um dos grandes mistérios da história da arte do século XX. Os pintores deste movimento, guiados por uma anarquia instintiva e um forte nihilismo, não hesitaram em anular as formas, técnicas e temas da pintura, tal como tinham sido entendidos até aquele momento. Um exemplo disso eram os quadros dos antimecanismos ou máquinas de nada, nos quais o tema central era totalmente inédito para aqueles tempos.

Representavam artefatos de aparência mais poética do que mecânica, cuja função era totalmente desconhecida. Para dificultar ainda mais sua análise, os títulos escolhidos jamais tinham qualquer relação com o objeto central do quadro. Não é difícil deduzir que, exatamente através desses antitemas, os pintores expressavam sua repulsa em relação à sociedade, que com a mecanização estava causando a destruição do mundo.

Um capítulo à parte merecem as colagens, que logo se transformaram no meio ideal de expressão do sentimento dadaísta. Tratava-se da reunião de materiais aparentemente escolhidos ao acaso, nos quais sempre se podiam ler textos elaborados com recortes de jornais de diferente feição gráfica. A mistura de todo tipo de imagens extraídas da imprensa da época faz desse tipo de trabalho uma antecipação precoce da idealização dos meios de comunicação de massa, que mais tarde viria a ser a artepop.

ESCULTURA NO DADAÍSMO

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Marcel Duchamp

A escultura dadaísta nasceu sob a influência de um forte espírito iconoclasta. Uma vez suprimidos todos os valores estéticos adquiridos e conservados até o momento pelas academias, os dadaístas se dedicaram por completo à experimentação, improvisação e desordem. Os ready mades de Marcel Duchamp não pretendiam outra coisa que não dessacralizar os conceitos de arte e artista, expondo objetos do dia-a-dia como esculturas.

http://revistaestilo.abril.com.br/blogs/la-dolce-vita/files/2010/01/manray.jpg

Man Ray

Um dos mais escandalosos foi, sem dúvida, o urinol que este artista francês se atreveu a apresentar no Salão dos Independentes, competindo com as obras de outros escultores. Sua intenção foi tão-somente demonstrar até que ponto o critério subjetivo do artista podia transformar qualquer objeto em obra de arte. Com exemplos desse tipo e outros, pode-se afirmar que Marcel Duchamp é sem dúvida o primeiro pai da arte conceitual.

http://www.artchive.com/artchive/r/rauschenberg/monogram.jpg
Robert Rauschenberg

Apareceram também, como na pintura, os primeiros antimecanismos, máquinas construídas com os elementos mais estapafúrdios e com o único objetivo de serem expostas para desconcertar e provocar o público. Os críticos não foram muito condescendentes com essas obras, que não conseguiam compreender nem classificar. Tais manifestações, por mais absurdas e insolentes que possam parecer, começaram a definir a plástica que surgiria nos anos seguintes.

FOTOGRAFIA E CINEMA DADAÍSTA

Artistas de seu tempo, os dadaístas foram sem dúvida os primeiros a incorporar o cinema e a fotografia à sua expressão plástica. E fizeram isso de uma maneira totalmente experimental e guiados por uma espontaneidade inata. O resultado desse novo materialismo foi um cinema completamente abstrato e absurdo, por exemplo, o de diretores como Hans Richter e a fotografia experimental de Man Ray e seus seguidores.

Foi exatamente Man Ray o inventor da conhecida técnica do raiograma, que consistia em tirar a fotografia sem a câmara fotográfica, ou seja, colocando o objeto perto de um filme altamente sensível e diante de uma fonte de luz. Apesar de seu caráter totalmente experimental, as obras assim concebidas conseguiram se manter no topo da modernidade tempo suficiente para passar a fazer parte dos anais da história da fotografia e do cinema artísticos.





Texto: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/dadaismo



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