14 de outubro de 2009

INSPIRAÇÕES AFRICANAS

Postado por célia ferrer às 12:04:00



RUBEM VALENTIN

Rubem Valentim nasceu em Salvador (BA) no ano de 1922 e faleceu em O artista divulgou em 1976 importante documento em que explicava as origens de sua arte e as metas a que aspirava, intitulando-o adequadamente Manifesto Ainda que Tardio, e do qual extraímos algumas significativas passagens:

«Minha linguagem plástico-visual signográfica está ligada aos valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista).

«Com o peso da Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue negro nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo - a contemporaneidade; criando os meus signos-símbolos procuro transformar em linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim.

«O substrato vem da terra, sendo eu tão ligado ao complexo cultural da Bahia: cidade produto de uma grande síntese coletiva que se traduz na fusão de elementos étnicos e culturais de origem européia, africana e ameríndia.

«Partindo desses dados pessoais e regionais, busco uma linguagem poética, contemporânea e universal, para expressar-me plasticamente. Um caminho voltado para a realidade cultural profunda do Brasil - para suas raízes - mas sem desconhecer ou ignorar tudo o que se faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de que já dispomos, é o caminho, a difícil via para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. Linguagem pluri-sensorial: O sentir brasileiro.

«Uma linguagem universal, mas de caráter brasileiro com elementos de diferenciação das várias, complexas e criadoras tendências artísticas estrangeiras.

«Favorável ao intercâmbio cultural intensivo entre todos os povos e nações do mundo; consciente de que as influências são inevitáveis, necessárias, benéficas quando elas são vivas, criadoras, sou entretanto contra o colonialismo cultural sistemático e o servilismo ou subserviência incondicional aos padrões ou moldes vindos de fora.

«A iconologia afro-ameríndia-nordestina-brasileira está viva. É uma imensa fonte - tão grande quanto o Brasil - e devemos nela beber, com lucidez e grande amor. Porque perigos existem: como o modismo; as atitudes inconseqüentes, inautênticas, os diluidores com mais ou menos talento, mais ou menos honestidade, pouca ou muita habilidade, sendo que os mais habilidosos e vazios são os mais danosos, porque geradores de equívocos; as violentações caricatas do folclore do genuíno; as famigeradas "estilizações" provincianas e o fácil pitoresco que levam a um subkitsch tropicalizado e ao efeitismo subdesenvolvido.

«Intuindo o meu caminho entre o popular e o erudito, a fonte e o refinamento - e depois de haver feito algumas composições, já bastante disciplinadas, com ex-votos, passei a ver nos instrumentos simbólicos, nas ferramentas do candomblé, nos abebês, nos paxorôs, nos ocês, um tipo de fala, uma poética visual brasileira capaz de configurar e sintetizar adequadamente todo o núcleo de meu interesse como artista.

«O que eu queria e continuo querendo é estabelecer um design (Riscadura Brasileira), uma estrutura apta a revelar a nossa realidade - a minha, pelo menos -, em termos de ordem sensível. Isso se tornou claro por volta de 1955-56 quando pintei os primeiros trabalhos da seqüência que até hoje, com todos os novos segmentos, continua se desdobrando.

«Minha arte tem um sentido monumental intrínseco. Vem do rito, da festa. Busca as raízes e poderia reencontrá-las no espaço, como uma espécie de ressocialização da arte, pertencendo ao povo.

«É a mesma monumentalidade dos totens, ponto de referência de toda a tribo. Meus relevos e objetos pedem fundamentalmente o espaço. Gostaria de integrá-los em espaços urbanísticos, arquitetônicos, paisagísticos.

«Meu pensamento sempre foi resultado de uma consciência de terra, de povo. Eu venho pregando há muitos anos contra o colonialismo cultural, contra a aceitação passiva, sem nenhuma análise crítica, das fórmulas que nos vêm do exterior - em revistas, bienais, etc. E a favor de um caminho voltado para as profundezas do ser brasileiro, suas raízes, seu sentir. A arte não é apanágio de nenhum povo, é um produto biológico vital.»


As origens africanas


Rubem Valentim partiu de uma pintura que revelaria, no começo, fortes influências parisienses; mas, olhando para dentro de si mesmo em meados da década de 1950 passou a utilizar, como matéria-prima do seu fazer estético, sua ancestralidade africana, o atavismo negro a que se referiria em 1966 o crítico italiano Giulio Carlo Argan, para quem a arte do brasileiro corresponderia a uma "recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais".

E o fez sem nenhuma concessão ao folclórico, ao turístico ou ao pitoresco, antes interpretando a simbologia ritualística de seus antepassados em termos de visualidade pura.

São Paulo em 1991.





MESTRE DIDI

Mestre Didi, nasceu em Salvador. Descendente direto de africanos. Sua mãe, Maria Bibiana do Espírito Santo, mais conhecida como Mãe Senhora foi uma grande dama, uma reconhecida Iyalorixa, condutora durante 30 anos de uma das mais sérias e tradicionais comunidades da Bahia. Seu pai, mulato elegante, era alfaiate, naquela época considerada uma profissão de categoria. Gostava de vestir esmeradamente o filho.


Mestre Didi é um sacerdote artista. Exprime, através da criação estética, uma arraigada intimidade com seu universo existencial, onde acestralidade e visão de mundo africano se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado com o universo nagô de origem yorubana, revela em suas obras uma ispiração mitica, formal, material. A linguagem nagô com a qual se expresssa é o discurso sobre a experiência do sagrado, que se manifesta por meio de uma simbologia formal e de carater estético

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O alto sacerdote do culto aos ancestrais-egun, o Mestre Alapini é o sumo sacerdote do culto aos orixás agrupados no Panteão da Terra, o Mestre Assògbá, extravasa sua vocação sacerdotal e artística na multiplicação de emblemas e obras de arte onde sabedoria e beleza se mancomunam.

Os orixás Obálúiayê, Nanã e Oxumarê pertencem ao Panteão da Terra zelado pelo Assògbá. Por extensão, devido as relações míticas, também fazem parte o Orixá Exú - principio dinâmico - que acompanha cada orixá e tudo que existe, e o orixá Ossanyin, patrono da vegetação.

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A Terra, Iya-nlá, a grande mãe, é associada a Nanã, orixá dos primordios da criação. É a mais antiga entidade da constelação mítica. Objetos, emblemas, cantigas, saudações e mitos que nos remetem ao seu culto e liturgia, destacam-se três elementos com os quais será constubistanciada: água, lama e morte. Na tradição religiosa Nagô as entidades - orixá ou egun - não possuem representação antropomórfica. A entidade suprema Olorun, não possui nenhuma representação material. Princípios dos princípios que torna possível e rege toda a existência, detenta e recicla os três principios fundamentais que se expresam através do branco, do vermelho, do preto e de suas nuances ou cominações.

As cores são portadoras dos princípios-poderes simbolizando as funções que lhes foram atribuidas. O iwá pretence ao domínio do branco; é o poder que permite a existência genérica; é veiculado por diversos elementos como giz (éfun), prata, chumbo, também pelo ar, hálito, pela respiração (émi) que indica a presença da vida.

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O axé pertence ao domínio do vermelho; é o poder de realização que dinamiza a existência e permite que ele advenha; é veiculado pelo sangue humano ou animal, pelo azeite de dendê, pelo osun (pó vermelho vegetal), pelo cobre, pelo bronze. O abá, do domínio do preto, é o poder que outorga propósito, dá direção e finalidade; está associado à interioridade e aos mistérios que nela acontecem ; é veiculado pelo ferro, indigo(waji) e está presente nas cavidades escuras no interior dos corpos.

O amarelo é considerado simbolicamente como uma variedade do domínio do vermelho, assim como o azul e o verde, em determinados contextos, são variedades do preto.

Por extensão, certos lugares, objetos ou partes do corpo impregnados de determinadas cores, como o coração , certas raízes, folhas, pedras e marfim, são portadores dos princípios mencionados.

Não existe um único elemento, conforme a conceituação Nagô, que não seja caracterizado através das cores-significados: vestes ou objetos rituais trazem, de alguma maneira, as marcas dessas cores, pintadas ou representadas por tiras ou pedaços de pano, couro, contas, sementes ou búzios ou mesmo pelas substâncias com que vasilhas ou emblemas são executados.


Presença, transmissão e redistribuição das cores-poderes estão presentes em todo vasto repertório material - assentamentos, altares complexos emblemas protótipos - e marcam todos os rituais.

Nanã é uma das entidades mais antigas do panteão nagô. Água e lama estão associados a fecundidade e a maternidade. Seu significado como genitora é revelado no seu próprio nome: Na, raiz protosudánica ocidental. Significado "mãe
".








1 comentários:

nanah on 22 de outubro de 2009 às 01:51 disse...

PASSEI , OLHEI E ADOREI, PARABÉNS CÉLIA VC É DEZ. BEIJOS NANÁ

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